quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Quando um não quer, dois não brigam, mas ambos sofrem

Ilustração Stina Persson


Ele parte, mas você não aceita. Você parte, mas quer ficar. E nessas contradições e discrepâncias do amor a gente vai vivendo e sofrendo. É, sofrendo, porque deixar aquilo que ama nunca foi e nem vai ser fácil pra ninguém. 
Quem é que quer deixar os chamegos, os cheiros, os beijos e os cabelos da pessoa que se gosta? Quem quer deixar as declarações verbais e não-verbais de amor? Quem quer deixar a preguiça de domingo de ficar em cima  da cama, debaixo ou em cima do endredon, encaixado no corpo do outro? Quem quer deixar os passeios de mãos dadas nas tardes e noites da semana? Quem quer deixar a sensação de frio na barriga quando o telefone toca e você sabe que é ele? Quem quer deixar a caixa de email cheia de mensagens com declarações amorosas e apaixonadas? Quem quer deixar aquele olhar de: você é especial pra mim? Quem quer deixar de fazer planos perfeitos pra um vida perfeita quando se é amado? Quem não quer que as horas e os dias passem voando pra poder encontrá-lo no fim do dia ou do mês? Quem quer deixar de ouvir Eu te amo? E quem quer deixar de falar? Quem quer deixar de saber do outro: onde ele está, como está, o que anda fazendo? Quem quer deixar de participar da vida de outro pra ajudá-lo a construir um pedaço da história dele? Quem quer deixar de construir a sua história de amor ou, ao menos, um pedaço dela também? Quem quer deixar de ter mais um dia feliz? Quem quer deixar de fazer bem e de se sentir bem? 

-Não é fácil deixar de amar aquilo que você quer como passado, presente e futuro. Não é fácil deixar o amor pra dar lugar a dor. Não é fácil, mas, na maioria das vezes é necessário, pelo bem da memória do coração. Porque a saudade bonita é umas das mais difíceis de se guardar, mas é a melhor de sentir.

Bruna Guedes_

2 comentários:

David Sento-Sé disse...

Fazer um coração parar de amar é o mais cruel dos pecados. É negar-lhe o próprio ofício: O de amar. É como romper-lhe as veias e sentar-se a apreciar o definhar.
Primeiro se apaga o brilho nos olhos, depois secam-se os sorrisos, segue-se o minguar da poesia, o sonhar, o querer tocar estrelas o não querer caminhar. Tudo murcha, tudo apaga, opaco e morno à espera do frio que virá no final.
Um coração árido não recupera o frescor por mais que se regue em lágrimas, não vê luz por mais que acenda velas de súplicas, não flora, não mais, pois a dor lhe faz crescer raízes apenas, profundas e mais profundas raízes, nunca flores.
Morem naturalmente o fígado de cirrose, o pulmão de enfisema, o estômago de úlceras, os rins de paralisia. Mas, a verdadeira parada é a cardíaca.
É no parar de amar que realmente cessa o viver.

Unknown disse...

Belo e sensível tanto o texto da Bruna quanto o seu comentário David.
E sabe o que mais vale nesses momentos de amargura é sentir o doce gostoso que um dia saboreamos.